terça-feira, 12 de junho de 2007

Isso é Coisa da Antiga? (Uma visão feminina)

Você acha que lavar roupa na tina, passar calor por causa da fumaça do ferro de engomar, ficar por horas fazendo pose para foto de família registrada por um retratista, ou ter aquele gigantesco almoço entre os parentes são coisas da antiga? E quem sabe então, preparar aquele almoço dominical que reunia todos os parentes em volta da mesa e depois jogar conversa fora com os vizinhos no portão enquanto as crianças brincam livremente na rua, mais tarde ir para o baile e voltar pra casa calmamente as três da manhã sem medo de ser assaltado na esquina de casa. Você acha que isso também é coisa da antiga?
Bem, realmente há costumes do passado que nos deixam lembranças doces e outros nem tanto. Citei aqui alguns hábitos corriqueiros de no mínimo 25 anos atrás, mas existe um entre todos eles que pelo que vejo, não tinha nada de negativo e praticamente caiu em desuso, o namoro. O flerte e o namoro, o amor propriamente dito era vivido de forma de maneira verdadeira e ingênua. Havia a crença na figura do “príncipe encantado”, o “bom partido” (conceito que variava muito de acordo com a classe social), mesmo sabendo que após o décimo ano de convívio o mesmo poderia se transformar em sapo.
Todo esse clima de romantismo e esperança das pessoas obviamente era uma fonte inesgotável de inspiração para a arte. As rádio-novelas, revistas femininas, os filmes, e claro as composições que embalaram os sonhos das jovens moçoilas e as serestas dos rapazolas quer fossem no morro ou no asfalto. Mas vamos nos deter a música. E falando nela é impossível esquecer-se da forma que para hoje pode parecer um tanto exagerada utilizada nas interpretações. Letras densas que mostravam o amor como algo sofrido, difícil, mas necessário de ter e encontrar. Sambas-canções e boleros cantados por verdadeiras rainhas da voz como a diva Dalva de Oliveira e Nubya Lafayete, que cantam sem pudores os sonhos e dores e dramas femininos das mulheres naquele período, mas que até hoje podem ser bem atuais. Do morro saíram milhares de composições falando do amor, trágico ou feliz. Geraldo Pereira, Cartola, Nelson Cavaquinho, Mijinha, são alguns dos responsáveis pelos mais belos sambas de amor. Uns com mais humor, outros profundamente românticos, outros dramáticos, mas todos revelando o âmago dos sentimentos mais simples e verdadeiros como o tão hoje tão desprezado amor.
Essa coisa da antiga, essa forma sem vergonha de falar e cantar coisas bonitas a quem se ama, e não a quem se quer representa a mais singela face do povo e da música brasileira, que perdeu muito da sua sensibilidade e poesia ao longo dos anos com coisas do tipo: “Ai, blau- blau! Blau-blau, blau-blau ela não me quer.” Ou algo semelhante a: “Você não vale nada, mas eu gosto de você...”. Será que não é melhor cantar: “Não. Eu não posso lembrar que te amei...”, ou “Que será da minha vida sem o teu amor...”. Talvez, clamar e perguntar: “Um amor, onde encontrarei Senhor? Livrai-me desta nostalgia. Confiante, ainda espero um dia...” ou “Sabes que vou partir com os olhos rasos d água e o coração ferido. Quando lembrar de ti, me lembrarei também desse amor proibido...”. No asfalto, Dalva de Oliveira e Herivelto Martins, no morro Dona Zica e Cartola. Dois casais que fizeram história na música popular brasileira, duas histórias de amor completamente distintas. Mas desses casais igualmente, brotaram as mais belas canções que fizeram e até hoje nos fazem suspirar querendo viver essa coisa da antiga que é o amor.








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